Por Jana Sá – Saiba Mais

Não se trata de um caso isolado. O que presenciamos na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte nesta semana — quando o presidente da sessão mandou a deputada estadual Divaneide Basílio “tomar um calmante”, ao invés de garantir seu direito regimental à fala — é mais um capítulo do enredo de misoginia institucional que tenta calar vozes femininas insurgentes na política. A fala desrespeitosa e autoritária, com traços claros de violência política de gênero, é dirigida não apenas à parlamentar, mas ao que ela representa: uma mulher negra, militante, feminista e defensora da periferia e dos direitos humanos.

O gesto não é simbólico — é estrutural. Porque o que está em curso é uma tentativa de alijar as mulheres dos espaços de poder, especialmente as que ousam falar por outras e não se curvam à ordem patriarcal e racista. Divaneide Basílio não é silenciada por acaso. Ela representa uma ruptura com a lógica da política feita entre pares, entre homens, entre aqueles que sempre ocuparam, sem contestação, as tribunas e os cargos.

Esse ataque ecoa o que vimos na Câmara Municipal de Natal, quando a vereadora Samanda Alves, também do PT, foi alvo de comentários desrespeitosos, tentativas de interrupção e constrangimento explícito no exercício do seu mandato. Ou o que tem vivenciado Bianca Soares, militante do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), que sofre com o machismo escancarado de parlamentares que não aceitam ver uma mulher periférica, de base, falando com autoridade e legitimidade no espaço do poder legislativo.

Esses episódios não são desvios de conduta. São expressões de um projeto político autoritário que precisa retirar de cena as vozes que incomodam, as vozes que denunciam, as vozes que mobilizam. E as mulheres — sobretudo as mulheres negras, feministas, militantes, vindas das lutas populares — são o principal alvo desse ódio misógino. Porque sabem que, se uma fala, outras falam. E se muitas falam, a estrutura ruge.

Estamos diante de uma ofensiva reacionária que se ancora no machismo para manter o controle do poder. Mas também estamos diante de um tempo em que as mulheres não se calam mais. A força de Divaneide Basílio, Samanda Alves e Bianca Soares é a força de milhares. A tentativa de silenciamento é respondida com mais organização, mais enfrentamento, mais coragem.

A extrema direita pode até tentar nos calar. Mas cada vez que corta nosso microfone, nós gritamos mais alto. Cada vez que mandam tomar calmante, nós ocupamos mais ruas. Cada vez que tentam nos deslegitimar, reafirmamos: somos parte essencial da transformação deste país.

Nossa solidariedade à Divaneide não é apenas gesto. É chamado à ação. Porque machismo não é opinião — é violência. E não passará.

Fonte: Saiba Mais

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